Como a Amazônia foi salva
Como a Amazônia foi salva
O biólogo americano Thomas Lovejoy passou meio século na Floresta Amazônica e, agora, em um artigo exclusivo para VEJA, ilustrado por um mapa completo da região, narra a epopeia da ciência para provar que a biodiversidade, termo que ele cunhou, é a verdadeira riqueza da maior floresta tropical do mundo
Por: Thomas Lovejoy16/10/2015 às 21:36
UM OLHAR PRECISO – Lovejoy, em 1989, na Reserva Florestal Ducke, ao norte de Manaus: atenção ao mais rico manancial genético do mundo, sem tom apocalíptico(Antonio Ribeiro/VEJA)
É difícil acreditar, mas até pouco mais de trinta anos atrás a Amazônia era vista, predominantemente, como um território inóspito a ser desbravado. Era chamada de “inferno verde”. A floresta impenetrável tinha, no imaginário popular, o papel de uma implacável e vingativa guardiã do ouro, do diamante, da madeira de lei e de outras tantas riquezas cobiçadas por aventureiros. O governo brasileiro queria vê-la “integrada ao território nacional” – ou seja, protegida dos invasores estrangeiros, cortada por estradas em cujas margens deveriam surgir grandes cidades. A presença humana na Amazônia, incentivada por programas oficiais de colonização, seguia à risca o lema de Simón Bolívar: “Se a natureza for contra nós, seremos contra a natureza”.
Hoje essa visão predadora da natureza está soterrada por toneladas de dados científicos, pela pressão internacional e pelo bom-senso dos governantes. Não se pode contar a história de como a Amazônia foi salva da ignorância e da cobiça humana sem que nela apareça Thomas Lovejoy, o biólogo americano que, como especialista em pássaros do Instituto Smithsonian, de Washington, desembarcou na selva brasileira em 1965. Ele tinha 23 anos e entendeu rapidamente que a grande riqueza da Amazônia é sua “diversidade biológica”, expressão que ele próprio cunhou para descrever a exuberância de vida do bioma tropical hoje celebrado como o mais rico do planeta. Read more.